Ponto de Vista-jornal Tribuna do Sudoeste 1 a 7 julho de 2012
A Cúpula dos Povos
pela justiça social e ambiental contra a
mercantilização da vida e da natureza na Rio + 20 fruto da mobilização da
sociedade civil planetária foi de fundamental importância para o fortalecimento
das organizações participantes e espaço de troca de experiências e do
compartilhar de saberes e culturas intercontinentais. Assim sendo, remeto ao
professor e filósofo Edgar Morin é por meio do diálogo de saberes que
avançaremos na construção de outra racionalidade civilizatória ocidental vigente
baseada na dualidade e na fragmentação da relação homem-natureza, onde a
“consciência humana ”pressupõe o domínio da natureza e dos demais seres vivos e
certamente também endossa o domínio de um homem sobre o outro, ou de um povo ou
nação sobre a outra.
Além do conceituado Morin tivemos
oportunidade de dialogar com outros pensadores críticos do modelo hegemônico de
desenvolvimento que não raro vem sendo adjetivado de sustentável e na Rio +20
pós-moderna veio travestido com o jargão da economia verde.
Dentre os presentes neste evento,
tive a enorme satisfação de participar de uma plenária com o sociólogo
português Boaventura de Souza Santos, crítico ferrenho da manipulação midiática e defensor das culturas
e dos valores dos povos tradicionais, da respeitosa e fraterna relação
homem-natureza. Para Boaventura é inaceitável falar de economia verde numa
sociedade de um (01) bilhão de famintos no mundo. Onde 07 mil crianças morrem
diariamente de doenças causadas por falta de saneamento básico. Onde 1% domina todo
o mercado de sementes e insumos da cadeia do agronegócio. Segmento este responsável
pela destruição da vida planetária. Prova disso é a constatação que 20% do agrotóxico produzido no mundo é
consumido em nosso país, vergonhosamente
somos há três anos os campeões planetários de consumo de veneno, muitos dos
quais há décadas proibidos em seus países de origem. E vimos que a manipulação
dos dados e desta triste realidade vem na retórica do progresso que o setor
traz aos municípios que são grandes produtores de grãos.
Na realidade são os trabalhadores
e trabalhadoras de nosso país que estão pagando com a vida os danos causados
pela concentração da riqueza e da terra frutos deste modelo perverso e
utilitarista do homem e da natureza.
Quantas escolas, postos de saúde
e hospitais, investimentos em pesquisa e
créditos para agricultura ecológica e
agroecologia para agricultores familiares e campesinos que são os produtores de
alimentos para a população e não para o gado e suínos europeus. Isto sim seria
um bom investimento para geração de empregos, saúde e qualidade de vida para
população, no lugar dos vultuosos quase cem bilhões destinados ao agronegócio. Este sim somente dá
lucro para uma minoria sendo os que mais ganham são as conhecidas
transnacionais corporações como a Monsanto com seus transgênicos, a Cargil,
ADS, Syngenta, etc, ou seja uma meia dúzia de detentores do mercado e da cadeia do agronegócio.
Finalizando digo que a Declaração
Final da Cúpula dos Povos é digna de uma
boa leitura e de uma reflexão séria, e
lamento dizer que não posso dizer o mesmo do documento final da Rio +20, pelo que vimos suprimiu e omitiu o
elementar e básico de qualquer discussão
séria analisar criticamente o modelo de desenvolvimento hegemônico- sem isto ao
que parece este foi mais um “embrólio sustentável” pois, sem devida coragem de tocar na ferida do grande causador
da injustiça social e ambiental e de degradação do planeta.
Sendo assim são pífeos e vagos os
compromissos assumidos pelos diregentes de Estados prsentes, pra não falar do
que tange as grandes empresas e do sistema financeiro mediante a necessidade de
assumirem suas respectivas parcelas de responsabilidades frente as desigualdades
sociais e a injustiça ambiental sofrida pelos
trabalhadores e trabalhadoras do planeta terra.
De resto a atual e propagada “economia
verde” da Rio + 20 e dos mercenários da natureza é de fato, como dizia meu avô:
conversa pra boi dormir.
Juarez Martins Rodrigues
Professor do Instituto Federal
Goiano campus de Rio Verde, professor e pesquisador colaborador da UnB, membro
da Furma Frutos do Cerrado Rio Verde.