quarta-feira, 4 de julho de 2012


                                             Ponto de Vista-jornal Tribuna do Sudoeste 1 a 7 julho de 2012

A Cúpula dos Povos 

pela justiça social e ambiental contra a mercantilização da vida e da natureza na Rio + 20 fruto da mobilização da sociedade civil planetária foi de fundamental importância para o fortalecimento das organizações participantes e espaço de troca de experiências e do compartilhar de saberes e culturas intercontinentais. Assim sendo, remeto ao professor e filósofo Edgar Morin é por meio do diálogo de saberes que avançaremos na construção de outra racionalidade civilizatória ocidental vigente baseada na dualidade e na fragmentação da relação homem-natureza, onde a “consciência humana ”pressupõe o domínio da natureza e dos demais seres vivos e certamente também endossa o domínio de um homem sobre o outro, ou de um povo ou nação sobre a outra.  
Além do conceituado Morin tivemos oportunidade de dialogar com outros pensadores críticos do modelo hegemônico de desenvolvimento que não raro vem sendo adjetivado de sustentável e na Rio +20 pós-moderna veio travestido com o jargão da economia verde.
Dentre os presentes neste evento, tive a enorme satisfação de participar de uma plenária com o sociólogo português Boaventura de Souza Santos, crítico ferrenho da  manipulação midiática e defensor das culturas e dos valores dos povos tradicionais, da respeitosa e fraterna relação homem-natureza. Para Boaventura é inaceitável falar de economia verde numa sociedade de um (01) bilhão de famintos no mundo. Onde 07 mil crianças morrem diariamente de doenças causadas por falta de saneamento básico. Onde 1% domina todo o mercado de sementes e insumos da cadeia do agronegócio. Segmento este responsável pela destruição da vida planetária. Prova disso é a constatação que  20% do agrotóxico produzido no mundo é consumido em nosso país,  vergonhosamente somos há três anos os campeões planetários de consumo de veneno, muitos dos quais há décadas proibidos em seus países de origem. E vimos que a manipulação dos dados e desta triste realidade vem na retórica do progresso que o setor traz aos municípios que são grandes produtores de grãos.
Na realidade são os trabalhadores e trabalhadoras de nosso país que estão pagando com a vida os danos causados pela concentração da riqueza e da terra frutos deste modelo perverso e utilitarista do homem e da natureza.
Quantas escolas, postos de saúde e hospitais, investimentos em pesquisa  e créditos para  agricultura ecológica e agroecologia para agricultores familiares e campesinos que são os produtores de alimentos para a população e não para o gado e suínos europeus. Isto sim seria um bom investimento para geração de  empregos, saúde e qualidade de vida para população, no lugar dos vultuosos quase cem bilhões  destinados ao agronegócio. Este sim somente dá lucro para uma minoria sendo os que mais ganham são as conhecidas transnacionais corporações como a Monsanto com seus transgênicos, a Cargil, ADS, Syngenta, etc, ou seja uma meia dúzia de  detentores do mercado e  da cadeia do agronegócio.
Finalizando digo que a Declaração Final da Cúpula dos Povos  é digna de uma boa leitura  e de uma reflexão séria, e lamento dizer que não posso dizer o mesmo do documento final  da Rio +20, pelo que vimos suprimiu e omitiu o elementar e básico  de qualquer discussão séria analisar criticamente o modelo de desenvolvimento hegemônico- sem isto ao que parece este foi mais um “embrólio sustentável” pois, sem devida  coragem de tocar na ferida do grande causador da injustiça social e ambiental e de degradação do planeta.
Sendo assim são pífeos e vagos os compromissos assumidos pelos diregentes de Estados prsentes, pra não falar do que tange as grandes empresas e do sistema financeiro mediante a necessidade de assumirem suas respectivas parcelas de responsabilidades frente as desigualdades sociais e a injustiça ambiental  sofrida pelos trabalhadores e trabalhadoras do planeta terra.
De resto a atual e propagada “economia verde” da Rio + 20 e dos mercenários da natureza é de fato, como dizia meu avô: conversa pra boi dormir. 

Juarez Martins Rodrigues
Professor do Instituto Federal Goiano campus de Rio Verde, professor e pesquisador colaborador da UnB, membro da Furma Frutos do Cerrado Rio Verde.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Nossa presença em defesa da vida na Cúpula dos Povos-Rio 20

A física nuclear, pesquisadora, humanista, ambientalista e liderança planetária renomada  conhecida pela sua militância em defesa  da justiça social e ambiental, a indiana esteve presença marcante na Cúpula dos Povos na Rio +20. Nesta foto posa junto com o professor Juarez Rodrigues em plenária que discutiu a os conhecimentos e a cultura dos povos tradicionais e sua importância na soberania alimentar e a manutenção da agrobiodiversidade planetária. 
Em seu livro a Monocultura da Mente a escritora chama atenção sobre a perda dos saberes locais em detrimento de um saber dominante, excludente e que visa apenas ao lucro e à vantagem de poucos grupos, empresas e/ou governos. Sobre este tema indico 02 (dois) excelentes documentários  - O Mundo Segundo a Monsanto e a A Corporação, disponíveis no YouTube. 


sexta-feira, 22 de junho de 2012

O cerrado no modelo insustentável e mudanças climáticas


                           DECLARAÇÃO FINAL

CÚPULA DOS POVOS NA RIO+20 POR JUSTIÇA SOCIAL E AMBIENTAL EM DEFESA DOS BENS COMUNS, CONTRA A MERCANTILIZAÇÃO DA VIDA

Movimentos sociais e populares, sindicatos, povos e organizações da sociedade civil de todo o mundo presentes na Cúpula dos Povos na Rio+20 por Justiça Social e Ambiental,vivenciaram nos acampamentos, nas mobilizações massivas, nos debates, a construção das convergências e alternativas, conscientes de que somos sujeitos de uma outra relação entre humanos e humanas e entre a humanidade e a natureza, assumindo o desafio urgente de frear a nova fase de recomposição do capitalismo e de construir, através de nossas lutas, novos paradigmas de sociedade.

A Cúpula dos Povos é o momento simbólico de um novo ciclo na trajetória de lutas globais que produz novas convergências entre movimentos de mulheres, indígenas, negros,juventudes, agricultores/as familiares e camponeses, trabalhadore/as, povos e comunidades tradicionais, quilombolas, lutadores pelo direito a cidade, e religiões de todo o mundo. As assembléias, mobilizações e a grande Marcha dos Povos foram os momentos de expressão máxima destas convergências.

As instituições financeiras multilaterais, as coalizões a serviço do sistema financeiro, como o G8/G20, a captura corporativa da ONU e a maioria dos governos demonstraram irresponsabilidade com o futuro da humanidade e do planeta e promoveram os interesses das corporações na conferência oficial. Em constraste a isso, a vitalidade e a força das mobilizações e dos debates na Cúpula dos Povos fortaleceram a nossa convicção de que só o povo organizado e mobilizado pode libertar o mundo do controle das corporações e do capital financeiro.

Há vinte anos o Fórum Global, também realizado no Aterro do Flamengo, denunciou os riscos que a humanidade e a natureza corriam com a privatização e o neoliberalismo. Hoje afirmamos que, além de confirmar nossa análise, ocorreram retrocessos significativos em relação aos direitos humanos já reconhecidos. A Rio+20 repete o falido roteiro de falsas soluções defendidas pelos mesmos atores que provocaram a crise global. À medida que essa crise se aprofunda, mais as corporações avançam contra os direitos dos povos,a democracia e a natureza, sequestrando os bens comuns da humanidade para salvar o sistema economico-financeiro.

As múltiplas vozes e forças que convergem em torno da Cúpula dos Povos denunciam a verdadeira causa estrutural da crise global: o sistema capitalista associado ao
patriarcado, ao racismo e à homofobia.

As corporações transnacionais continuam cometendo seus crimes com a sistemática violação dos direitos dos povos e da natureza com total impunidade. Da mesma forma, avançam seus interesses através da militarização, da criminalização dos modos de vida dos povos e dos movimentos sociais promovendo a desterritorialização no campo e na cidade.

Avança sobre os territórios e os ombros dos trabalhadores/as do sul e do norte. Existe uma dívida ambiental histórica que afeta majoritariamente os povos do sul do mundo que deve ser assumida pelos países altamente industrializados que causaram a atual crise do planeta.

O capitalismo também leva à perda do controle social, democrático e comunitario sobre os recursos naturais e serviços estratégicos, que continuam sendo privatizados, convertendo direitos em mercadorias e limitando o acesso dos povos aos bens e serviços necessários à sobrevivencia.

A atual fase financeira do capitalismo se expressa através da chamada economia verde e de velhos e novos mecanismos, tais como o aprofundamento do endividamento
público-privado, o super-estímulo ao consumo, a apropriação e concentração das novas tecnologias, os mercados de carbono e biodiversidade, a grilagem e estrangeirização de terras e as parcerias público-privadas, entre outros.

As alternativas estão em nossos povos, nossa história, nossos costumes, conhecimentos, práticas e sistemas produtivos, que devemos manter, revalorizar e ganhar escala como projeto contra-hegemônico e transformador.

A defesa dos espaços públicos nas cidades, com gestão democrática e participação
popular, a economía cooperativa e solidária, a soberania alimentar, um novo paradigma de produção, distribuição e consumo, a mudança da matriz energética,  são exemplos de alternativas reais frente ao atual sistema agro-urbano-industrial.

A defesa dos bens comuns passa pela garantia de uma série de direitos humanos e da natureza, pela solidariedade e respeito às cosmovisões e crenças dos diferentes povos, como, por exemplo, a defesa do “Bem Viver” como forma de existir em harmonia com a natureza, o que pressupõe uma transição justa a ser construída com os trabalhadores/as e
povos. A construção da transição justa supõe a liberdade de organização e o direito a
contratação coletiva e políticas públicas que garantam formas de empregos decentes.

Reafirmamos a urgência da distribuição de riqueza e da renda, do combate ao racismo e ao etnocídio, da garantia do direito a terra e território, do direito à cidade, ao meio ambiente e à água, à educação, a cultura, a liberdade de expressão e democratização dos meios de comunicação, e à saúde sexual e reprodutiva das mulheres.

O fortalecimento de diversas economias locais e dos direitos territoriais garantem a construção comunitária de economias mais vibrantes. Estas economias locais proporcionam meios de vida sustentáveis locais, a solidariedade comunitária, componentes vitais da resiliência dos ecossistemas. A maior riqueza é a diversidade da natureza e sua diversidade cultural associada e as que estão intimamente relacionadas.

Os povos querem determinar para que e para quem se destinam os bens comuns e
energéticos, além de assumir o controle popular e democrático de sua produção. Um novo modelo enérgico está baseado em energias renováveis descentralizadas e que garanta energia para a população e não para corporações.

A transformação social exige convergências de ações, articulações e agendas comuns a partir das resistências e proposições necessárias que estamos disputando em todos os cantos do planeta. A Cúpula dos Povos na Rio+20 nos encoraja para seguir em frente nas nossas lutas.

Rio de Janeiro, 15 a 22 de junho de 2012.
Comitê Facilitador da Sociedade Civil na Rio+20 - Cúpula dos Povos